Por que visitar um campo de concentração próximo a Berlim?
Dezembro de 2021. O dia estava cinza e gelado. Atmosfera totalmente similar à energia que me atingiu assim que eu vi aqueles portões com os dizeres “O trabalho liberta”, Arbeit match frei. Que coisa mais sinistra e sádica!
Eu, meu marido, Bruno, e meus filhos Arthur (17 anos) e Léo (14 anos) estávamos entrando no campo de concentração de Sachsenhausen, que fica a menos de 50km de Berlim.
Todos aqui em casa gostam muito de história, lemos muito sobre as grandes guerras e o Arthur, principalmente, queria muito conhecer de perto um campo de concentração. Então colocamos no nosso roteiro, sempre pensando com muito respeito em todos que sofreram naquele lugar. Conhecer para não repetir.
Como chegar a Sachsenhausen
Chegamos com transporte público com o cartão do Berlin Welcome Card que dava direito tanto ao transporte no centro de Berlim como nos arredores. O cartão custou 44 euros por 4 dias de uso, sendo que até 14 anos, ou seja, para o Léo, era gratuito (uhuuu). Para pegar a combinação de trem e metrô certa, é melhor fazer a pesquisa na hora, pois há várias opções.
A viagem dura pouco mais de uma hora e chegamos numa cidadezinha linda, Orianenburg, de cuja estação de trem caminhamos uns 20 minutos para chegar na entrada do Memorial e Museu Sachsenhausen. Mas existe um ônibus já incluso no pacote do Berlim Welcome Card. Na volta, pegamos o ônibus até a estação de Orianemburg.
Entrando no campo de concentração
A entrada para Sachsenhausen é gratuita, e há opção de pegar audioguia em português do Brasil a 3 euros cada, o que eu recomendo, vale muito a pena. Também há visitas guiadas desde Berlim. Por causa da Covid, tivemos que apresentar o certificado de vacina. Máscara obrigatória durante todo o tempo.
Tudo o que eu falar aqui não vai te dar a dimensão do que é entrar num lugar que foi palco das maiores atrocidades do ser humano nos últimos tempos. A atmosfera lúgubre e gelada me acompanhou o tempo todo. De vez em quando eu tinha uns arrepios que não eram certamente apenas consequência do frio.
História de Sachsenhausen
O campo de Sachsenhausen começa sua história em 1933, com a criação do campo de concentração de Orianenburg, para encarcerar presos políticos e opositores do nazismo. Durante a guerra, em 1936, foi concebido como um campo de concentração ideal ligado à visão de mundo da SS, com a intenção de submeter os internos ao seu poder absoluto. Pela sua proximidade com Berlim, era também campo de treinamento e tinha um status especial. Começou como campo de trabalhos forçados, mas, no fim da guerra, todas as atrocidades do extermínio em massa ocorreram ali. Após a guerra, virou um campo de concentração soviético.
Visitando Sachsenhausen
Sobraram poucos barracões das dezenas que abrigaram mais de 200 mil prisioneiros que sofreram ali. Os que restaram é somente para contar a história aos visitantes. Mas a estrutura de cada um no solo se mantém, o que deixa ainda mais desoladora a paisagem. Andamos por aqueles vastos campos cercados por postos de observação, de onde partiam os tiros que mataram milhares de seres humanos. Os mastros de enforcamento se mantêm. Duas árvores enormes que ficam tenebrosas naquele ambiente estão lá para compor o cenário de uma energia absolutamente negativa. Não dá vontade de conversar, só observar e pensar na bestialidade que o ser humano é capaz de chegar.
E andamos e andamos e andamos. Num dos barracões, você pode ver, no original, os beliches e os banheiros indignos usados pelos prisioneiros. Vemos a cozinha e a arte feita pelos prisioneiros nas paredes. Em outro barracão, existe um museu com fotos muito tristes, muitas histórias inacreditáveis e aparatos inventados pelos nazistas para matar mais facilmente suas vítimas.
Estação Z
Depois de andar muito, eu e Léo fomos tomar um chocolate quente no café do museu, e esperamos o Bruno e o Arthur voltarem. Como eles não voltaram, nós retornamos ao campo de concentração e soubemos que havíamos deixado passar a parte mais sinistra de toda essa história: a Estação Z.
Então voltamos para ver com os próprios olhos essa Estação Z, que era Z por causa da última letra do alfabeto. Analogamente à Torre A, que era o portão de entrada, a SS cinicamente chamou este edifício de “Estação Z”, por ser o destino final dos prisioneiros. Era uma unidade de extermínio no pátio industrial, construída em 1942. Tinha crematório e unidade de injeção de pescoço, com câmara de gás acrescentada em 1943. Lá, pelo audioguia, soubemos com bastantes detalhes o que acontecia com os prisioneiros nesses momentos finais, e, sério, não tem como não embrulhar o estômago ouvindo as informações e vendo com os próprios olhos o local onde aconteceu isso tudo.
As trincheiras perto da Estação Z foram descobertas apenas em 1996 e 2004, onde foram achados montes e montes de cinzas, que depois descobriu-se que eram restos mortais de seres humanos.
Bem ao lado do campo de concentração, impossível não ver umas casinhas, quase grudadas ao muro. Será que já existiam naquela época? Será que seus moradores eram testemunhas coniventes com toda aquela dor?
Não me arrependo de ter conhecido de perto Sachsenhausen. Tudo aquilo que vemos em filmes e lemos em livros se materializa na nossa frente. Não faltam motivos para lamentar a evolução da humanidade. Mas podemos ter esperança de estamos no caminho de termos deixado para trás esse tipo de bestialidade. É a minha esperança.
Informações de Sachsenhausen
Sachsenhausen Memorial and Museum
Straße der Nationen 22 – D-16515 Oranienburg
phone: +49 (0)3301 200-200
fax: +49 (0)3301 200-201
besucherdienst@gedenkstaette-sachsenhausen.de
Telephone hours: Mondays to Fridays, 11:30 am – 1:30 pm