Casamento indiano
Índia

Casamento Indiano: os preparativos e as roupas

mar 14, 2018 Adriana Magalhães
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A festa de casamento na Índia dura vários dias como na novela? Num casamento indiano, o noivo chega a cavalo? É verdade que a noiva deixa sua família e todas as suas coisas para trás para morar com a família do marido? Nesta série de posts sobre o casamento indiano, minha amiga Ana Shah compartilha sua experiência no casamento de seu cunhado em Ahmedabad, Índia, mostrando que vale a pena Atravessar Fronteiras e conhecer a milenar cultura indiana. Muito obrigada a Ana por compartilhar tanta novidade interessante. E saiba que o post não acaba aqui…


 

Maulik e sua noiva Dhara

Antes de começarmos, é importante pontuar que a Índia abriga diferentes planetas dentro dela. Cada estado tem uma cultura diferente e inclusive fala uma língua diferente. A maior parte dos indianos é hindu, seguidos de muçulmanos, cristãos, sikhs, budistas e jainistas. A família do meu marido é hindu, do estado de Gujarat e falam o idioma Gujarati. Portanto, o que descrevo para vocês está relacionado a esse recorte da Índia.  

Os preparativos para um casamento indiano

Os indianos são muito vaidosos em relação a roupas e jóias. Um mês antes do casamento, já estavam rolando as fotos dos figurinos no grupo de whatsapp da família para todos os demais opinarem. E isso não é uma exclusividade das mulheres, como imagino que seria aqui no Brasil. O comportamento é o mesmo para homens, mulheres, jovens ou mais velhos. Foi muito legal ver e participar disso tudo. Tive a oportunidade de ir ao shopping procurar algumas peças que faltavam para meu marido, meu sogro e meu cunhado e é muito interessante ver como eles são super criteriosos – e a paciência que eles têm para experimentar tudo até encontrar algo com o caimento perfeito (bem diferente do homem brasileiro). O mesmo para escolher os vestidos e saris que eu usaria: não é uma atividade apenas feminina escolher, analisar, dar opinião. É uma coisa de família, sem distinção de gênero. E não é por obrigação: eles parecem ter prazer em fazer isso.

Ana em uma das lojas de vestidos que visitou para escolher o vestido da recepção do casamento indiano

 

 

São vários dias de eventos e, portanto, vários os looks que precisam ser providenciados. Minha família é muito organizada nisso. Cada um tinha uma pequena mala com as roupas que seriam vestidas em cada dia, por ordem de uso. O responsável por organizar e manter essas malas era o primo Jainit – gosto de contar esses detalhes, para pensarmos nas diferenças culturais entre Brasil e Índia. Antes disso, eu tinha sido a responsável por fazer uma lista para cada pessoa da casa com a roupa de cada dia, anotando e gerenciando o que estava faltando para cada um – sapato para dia tal, cinto para dia tal etc.

E ainda tinham as jóias! Eu nunca fui muito ligada em jóias, mas admito que é fascinante. Elas foram buscadas no cofre do banco alguns dias antes. Quais seriam usadas em que ocasião também foi detalhadamente planejado. Eu tive muita dificuldade, por causa da grossura dos pinos dos brincos de ouro, que nem passavam no furo da minha orelha (acreditem!). E aqueles que eu dava conta de colocar (com muita dificuldade) tinham um peso que era difícil aguentar, parecia que minha orelha ia rasgar. Coisas que a gente nem imagina…

Ana, seu marido Saurabh, e as joias no dia do casamento do cunhado, na Índia

 

Foram basicamente sete dias de função do casamento. Os familiares começaram a chegar dois dias antes da primeira cerimônia. Tínhamos uma roupa especial já a partir desses primeiros dias.

A família alugou mais dois apartamentos no mesmo prédio para alojar os convidados que vinham de outras cidades. Contrataram um serviço de buffet que preparava todas as refeições embaixo do prédio (“debaixo do bloco”, como diríamos aqui em Brasília), durante todos esses dias. A casa estava toda enfeitada por ocasião do casamento.

Muita gente

Era muita gente, por todo lugar. Para vocês terem uma ideia, num dia após o almoço, não achei nem uma cama nem um espacinho sequer no sofá para tirar um cochilo – fui, literalmente, dormir no banco da praça.

Eu estava muito nervosa, porque logicamente havia uma curiosidade de todos para conhecerem a “firangi estrangeira”*.

Pausa para explicação: firangi quer dizer “estrangeira” em hindi. O termo “firangi estrangeira”  foi popularizado pela novela global Caminho das Índias.  

Nem todos falavam inglês, então também havia a barreira da comunicação. Mas aos poucos fui me ambientando e, em alguns dias, eu já estava super confortável para ser apresentada para as pessoas e tocar os pés dos mais velhos. Sim, nós abaixamos para tocar os pés dos familiares mais velhos, em sinal de respeito e como que pedindo uma benção.

As atividades que antecederam o casamento foram basicamente restritas à família do noivo, e a noiva nem estava presente (com exceção da noite da Garba – uma dança tradicional). Enquanto isso, a Dhara estava cumprindo os rituais com a sua família, dos quais também não participamos.  

Pensem numa pessoa feliz quando me chamaram para fazer o mahendi (henna)! Dois artesãos de henna foram contratados e pintaram todas as mulheres da família em casa.

Artesão de henna trabalhando lindamente nas mãos da Ana

Pensa que é fácil não tocar em nada até secar… E depois não pode molhar a mão até o dia seguinte.

Os rituais começaram alguns dias antes do casamento. Fui incluída em tudo, aceita como parte da família. Peço desculpas, mas não saberei explicar para vocês o significado de todos os rituais, não só porque são muitos, mas também por estarem muito além da minha compreensão ocidental. A maior parte deles foi conduzida por um brâmane, que é um membro da casta sacerdotal.

 

Mulheres da família fazendo um ritual com sementes

 


Ana Shah é analista de TI e entusiasta do software livre. Pedagoga apaixonada por Educação, mãe, voluntária e interessada por tudo relacionado à cultura indiana – desde antes de “importar” o marido Saurabh da Índia. Inclusive, conheceu a Adriana Magalhães do Atravessar Fronteiras nas aulas de yoga para gestantes, em 2007. Escreve os blogs Amor Indiano, Animando-C e Apenas Mulheres de Verdade. Siga no Instagram.

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